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sábado, 15 de setembro de 2012

Luanda...não é para "meninos"!

Luanda…não é para "meninos"!
Jantávamos noutro dia com 2 amigos, amigos conhecedores destes terrenos, portugueses já cá há anos, ambos com nacionalidade local, familia ora aqui ora aí,  e a saberem bem o que dizem. E a certa altura, no meio de histórias de vida, peripécias inimagináveis, um deles … descrevendo-me Luanda nalgumas das suas especificidades … disse tudo numa só frase que me ficou…”Luanda, não é para meninos!”…E não é mesmo, sejam meninos ou meninas…ou se muda o “chip”, ou não dá mesmo para cá viver.
Não há meio-termo, vive-se com o bom e com o menos bom no minuto seguinte, constantemente nos extremos…e isso não é realmente para todos…de todo!
Não tem a ver com género, masculino ou feminino, só ou com família, idade,…
Qualquer um pode vir, ficar e gostar, como não gostar e ficar…mas a questão fundamental é que só se aguenta quem tem um forte jogo de cintura emocional. E quando falo em resistência emocional é mesmo experimentando o menos bom, seguir em frente e no minuto seguinte regressar á normalidade sem medos, sem fantasmas, apenas com os cuidados que qualquer cidade do mundo requer…certo que também umas mais que outras.
Mas esta é especial, mais intensa em qualquer sentido, e ou se adora ou se detesta, e quem não gosta mas emocionalmente resiste, não vive…sobrevive em sobressalto, não usufrui do que de melhor esta terra tem, gente, paisagens, locais, convívios … porque há muita coisa boa e única aqui neste povo.
Tanto se janta hoje num restaurante de sonho, com um ambiente encantador pela leveza que transmite, como amanhã…em qualquer fila de transito (por principio em segurança – com portas trancadas e vidros fechados)…nos apontam uma arma e nos levam tudo.
Tudo isto tem de ser encarado com normalidade, desde o relaxar num jantar, a abrir o vidro do carro com uma pistola apontada e entregar tudo (para os mais vividos, tudo é o chamado Kit Gatuno – que tem um telemóvel fraco e algum dinheiro) pois o resto tem de estar bem escondido…depois é fechar o vidro e quando o transito permitir …  avançar, como se nada se tivesse passado.
Temos de sair de casa, com uma organização meticulosa, dinheiro para nós, dinheiro para os ladroes, dinheiro para a policia . . . são as 3 despesas diárias que poderemos ter, sem contarmos…podendo acontecer ou não.
Há quem passe tempos sem ser interpelado por convivas da vida ou da lei, meses ou mesmo anos, mas há quem seja “privilegiado” com um baptismo precoce, vivendo tudo isto em 3 dias, tudo o que outros não vivem em meses ou anos.
E eu fui das “priveligiadas”, pois nem 15 dias tinham passado da minha chegada e em 3 dias fui baptizada quer pelos convivas da vida no transito parado á mão armada ( ouvi… noc, noc…no meu vidro de pendura e olhava para 3 jovem que estavam junto ao vidro do motorista… não olhei para o meu lado, pensei serem vendedores…e de novo noc, noc… olhei e lá estavam 2 jovens com um “canudinho”…não sei se a arma tinha um buraquinho ou dois, pareceram-me dois, acho que vi a dobrar J … mas com calma baixei o vidro e entreguei a mala que me pediram…ainda falámos baixinho…o telemóvel perguntaram…está aí dentro da mala respondi…preparava-me para tirar os brincos … mas tiveram de ir, afinal já era o 8º serviço que faziam ali, que vim a saber mais tarde na policia … J ) quer pelos convivas representantes da lei, que pela autoridade que representam, mandam encostar o carro e …que por ser 6ª feira, aqui dia do homem J, necessitavam de uns Usd para os copos…afinal 6ª feira é dia de festa e os patrocinadores são nomeados aleatoriamente!
E é de situações destas que falo, não muito relevantes, mas que quando vividas é conseguir manter a calma, colaborar, seguir, e esquecer, andar atento, mas como nada tivesse acontecido.
Perigo, perigo…não senti, não se pode é fazer frente…é ceder e pronto, dar dinheiro e o que entenderem que lhes interesse, agindo com a maior normalidade possivel, pois …agora, proibido é resistir, fazer peito cheio (mais próprio dos homens, que se julgam valentes)…aí sim podemos falar em perigo de as coisas correrem mal, muito mal.
Desta forma, a quem para cá vier viver, venha que vale a pena, mas venha com um “reset” feito á sua postura de apego a bens materiais como telemóveis, relógios, dinheiro…venha com um espirito de partilha, seja ele voluntário ou forçado, mas venha acima de tudo preparado para efectivamente dar importância ao que realmente se for, não volta…a vida…tudo o resto…um dia substitui-se!
Concluindo…estou baptizada J … como muitos ainda não foram e receiam em sê-lo…eu já não…aliás nem tive tempo de pensar nisso, como dizem…fui baptizada cedo demais, ou talvez não…eu também acho que não, porque medo, medo . . .não tenho mesmo, não vivo com medo, já sei o que é, e quem não o viveu receia-o viver…não foi cedo demais, foi na minha hora…e agora aguardo apenas que me caiam crocodilos em cima J !
E regressando ao inicio…podem vir Homens sozinhos, Senhoras sozinhas, famílias inteiras…que não há qualquer problema…só não podem vir….se vierem com o chip de “meninos e valentes”, porque efectivamente, no meio de tantas aventuras … este nosso amigo disse tudo… Luanda, não é para “meninos” e aí concordo, não é mesmo!
Quanto a organização pessoal de bens diários a transportar e zonas a evitar, … fica para outro post…que este já vai longo!
Siga….aguardo os crocodilos J!

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