Número total de visualizações de páginas

domingo, 14 de outubro de 2012

Num caminho lento, mas ao alcance...um dia será para todos, breve espero!


Desde início que transmiti…mudar o chip é fundamental, pois nada de nada é adquirido por estas terras.

Falo concretamente, nestes dias que têm passado, da escassez de água e da falta de eletricidade regular…vive-se praticamente de geradores. E claro que em dimensões e realidade diferentes, esta é uma realidade que toca a todos. 

Na rua vêem-se homens, mulheres e crianças a carregar alguidares, baldes, bidons de água para levar para o lar, ou casas como lhe chamam, digo-o porque de qualquer canto se faz um lar, mas nem qualquer canto é na verdade uma casa …esta é a realidade, dura e crua…nada fácil de observar, de nos imaginarmos nessas vidas… que á nossa volta circulam e abundam! 

Mas com em tudo…há que saber lidar com isso…e dentro das nossas capacidades ajudar este Povo, este País a evoluir e não descorar o tanto … que só de olhar temos para aprender!

Logo cedo, pelas 7 da manhã chego ao centro da cidade para trabalhar…hoje nem a um café tive direito, pois a esplanada onde o tomo por hábito ficou sem gasóleo para alimentar o seu gerador, e não havendo eletricidade, sem gerador…nada feito!

Desde cedo, o barulho no centro da cidade é inicialmente quase ensurdecedor … não por ser ruidoso a um nível insuportável, mas por se ter constantemente um vrrrruuuuummm como barulho fundo… são os geradores dos prédios a funcionar…todos em simultâneo…porque nada é adquirido…ainda nem o básico como a agua (e não falo da agua potável, inexistente gratuitamente) …enfim, é o que há, e já foi bem pior há uns anos, pelo que dizem, que isto não é nada... Acredito, sem pestanejar! 

Mas este ano, forte na seca, está a dar mesmo escassez a sério de água. E escassez aqui é ser reduzida para quem pode e inexistente para quem não pode, isto é, para alguns milhões de pessoas, que só em Luanda,  com capacidade para perto de um milhão de habitantes…alberga quase oito milhões!

A par do barulho de fundo, para compensar…o silêncio dos telemóveis, comunicações ausentes de sinal quase sempre, a internet quase inexistente, afinal o que é isso numa cidade onde de um lado se despeja água mineral para as limpezas a que chamamos básicas e noutro se morre á sede, por ausência de agua nas poças da rua!

Que força tem este povo, que com um sorriso prossegue o seu dia, nas suas vendas de rua, na sua azafama de candongueiro transportando gente e gente a toda a hora de um lado para o outro, gente por vezes sem rota certa, que de certo apenas têm que … há que sorrir e prosseguir…melhores tempos virão…apoiados na fé, numa religião própria, que em contraste com tudo o que lhes escasseia têm em abundância e a vivem com sofreguidão.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Luanda...Balanço 1º Mês


Após um mês em Luanda…o balanço. Um mês é um mês, certo … vale o que vale, mas é um período fundamental, termos a noção do saldo do nosso 1º impacto do que realmente é viver em Luanda. 

Ouvimos muito, previamente da boca dos outros, de como é, o que se sente, os ciclos de euforia e desgaste total, mas nada como vermos como reagimos, como nos sentimos com o 1º impacto. 

Dia após dia, o tempo o dirá como será daqui para a frente. Até hoje…o saldo é muito positivo, gosto mesmo de muita coisa, mas outras nem tanto (o que não dou relevância, porque aconteceria com qualquer mudança, fosse para onde fosse), naturalmente.

Gosto do meu trabalho, gosto das pessoas, gosto do clima, gosto do dia-a-dia na generalidade, gosto dos sorrisos que vejo em vidas que em nada têm motivo para sorrir quando comparada com a mentalidade dos meus conterrâneos, gosto do preceito e cuidado com que se vestem (independente de gostos, há apresentação, seja que estrato social for), gosto da garra com que agarram a vida e do nada fazem tudo, gosto de ver as crianças irem contentes para a escola pelas 6:30 da manhã saídas dos musseques (o mais aproximado que conheço são as favelas do Rio de Janeiro), gosto do ritmo desta cidade…que na realidade mais parece também que “nunca dorme”…like New York …almost!J, gosto da terra vermelha (aqui não se diz encarnado), do cumprimento matinal espontâneo de qualquer um, da sede de aprendizagem deste povo e de muito mais…

Não gosto da pobreza que se observa a cada metro, não gosto da corrupção generalizada seja de que nível  for, não gosto da criminalidade gratuita de alguns pela opção de levarem uma vida menos sacrificada que outros, não gosto da arrogância dos angolanos brancos, não gosto dos portugueses que daqui tiram o seu sustento e são críticos severos incongruentes, não gosto da invasão de chineses, não gosto dos brasileiros que por aqui pousam e que só sabem apontar o dedo á criminalidade (como se o Brasil fosse algo de tranquilo e exemplar neste campo), não gosto do racismo de alguns negros para com os brancos, mas fundamentalmente para com os mestiços…e de mais qualquer coisita!

Há mais coisas de que não gosto, mas encaro como caprichos insignificantes…entre os quais, algo a que estranhamente me habituei e que é de difícil compreensão para quem lê…habituei-me a demorar 1h30m até ao escritório no transito ás 6h da manhã…para percorrer não chega a 20 Km…quer para lá quer para cá! Mas se o transito estiver mesmo mau, porque demorar 1h 30m até fico bem, posso demorar 1h 45m ou até 2h e aí…já me incomoda mesmo! Se fizer o percurso numa 1h e 15 minutos, fico contente…acreditem…verdade…incompreensível para qualquer um, eu sei,, mas são hábitos…mudei o ship, a realidade assim o exigiu e em nada me acrescentava stressar com isso, antes pelo contrario…é assim…somos animais de hábitos!

Hoje, ao fim de 1 mês e uns trocos, gosto, gosto mesmo…e voltava a vir…não tenho qualquer duvida.

Amanha ... dizem-me (quem cá já anda há mais tempo) que rapidamente mudarei de opinião…não digo que não, perante experiencias provadas de outros…mas acredito que não como me o transmitem, terei fases certamente (identicas ás que teria em qualquer outra terra, mesmo na minha), mas hoje acredito seriamente que não…mas talvez mude de opinião, conforme me fazem crer os já cá instalados há mais tempo, mas Tuga que é Tuga…todos sabemos, frequente é o que só está bem onde não está…mas o tempo o dirá…cada um é como cada qual e cada caso é um caso.

Proibitivo para quem vem ou pensa em vir e ter hipotese de gostar … é vir só pelo dinheiro e não usufruir do que está terra oferece, mas que é caro; é vir só para ficar uns anos tendo família directa distante diáriamente, é vir sem abertura para se entregar aos hábitos, viver o espirito, conhecer o povo, apreender, passear, conviver, enfim usufruir o máximo quando não se está a trabalhar…porque engane-se quem pensa que se trabalha pouco, pior trabalha-se muito e produz-se pouco o que é muito mais desgastante…porque no ritmo da terra não há lugar para heróis acelarados…e cansa, andar devagar…garanto-vos!

Junto testemunho num artigo sobre esta terra…de alguém mais experiente, com quem concordo, não em tudo…mas na generalidade: