A primeira visita familiar começa
não com a chegada, mas com os preparativos da partida: Angola = Passaporte = visto=Consulado=Welcome
to Africa.
A minha cunhada aventurou-se a
pôr-se a caminho com 3 adolescentes a quem a lei recentemente atribuiu a
maioridade. Adolescentes a quem, no meu tempo, apenas se diagnosticava com “bichos-carpinteiros”
e que hoje com a maior leviandade lhes é dito que são hiperativos…mas
enfim…juventude distraída e agitadinha. Uma aventura que desnorteia qualquer
mulher mentalmente minimamente organizada.
Tudo pronto, todos a dormir na
mesma casa hoje, porque amanha o dia começa bem cedo no caminho até ao Consulado
Geral de Angola em Lisboa.
Pela fresca, arrancam e o
primeiro percalço…”Tia, esqueci-me do cartão de estudante em casa”…lá se foi o
adiantamento programado logo pela madrugada.
Já com o cartão de estudante na
mão prosseguem o seu caminho, mal adivinhando o que se seguia.
Cedo, bem cedo…a fila no
consulado já era interminável ainda longe da hora de abrir o expediente. Mas
convictos e cheios de vontade…daqui hoje não saíam sem o assunto tratado.
Os 4 enfrentaram juntos a espera,
inicialmente com mais animação … com o passar do tempo nem tanto.
Cada qual com a sua mica e os
documentos, especificamente escritos, para nada faltar.
Conversa-se, ri-se, boceja-se,
gesticula-se e um por um ia deixando cair documentos. Á vista iam-se apanhando
o que teimava, porque a paciência começava a escassear, escorregar das micas “quase”
escrupulosamente reunidas.
Entre conversas e silêncios
prolongados, já sem posição, eis que surge uma pergunta: “Tia, é preciso o
passaporte?” Afinal a adolescência é isto, quem não se lembra? Filho toma as
chaves, leva a tua prima a casa para ir buscar o passaporte…rápido. E lá foram.
O lugar continuava reservado na
fila, até que olhando em volta se apercebem que são necessárias fotografias…afinal
a adolescência na vida regressa após os 40! Filho, regressa já, temos de ir
todos tirar fotografias aqui ao lado. O adolescente paciente e organizado da família
mas com um ADN ao qual não escapa … regressa pacientemente e necessariamente a
dizer mal da vida.
Fotos tiradas, passaporte
recolhido, os 4 juntos quase, quase…na sua vez, finalmente. Angola cada vez
mais perto.
É agora. Bom dia. Papeis para
preencher. Cada qual o seu. Tia que ponho aqui, tia que ponho ali, tia não dou
o meu email vou dizer que não tenho (é privado, dou tudo, passaporte, digitais
dos 10 dedos das minhas mãos, mas o meu email não levam!). Menina, não pode
riscar, diz o Sr. que atendia esta “banda” quase alinhada. Ponha o email da sua
Mãe…huummm, o da minha Mãe?(o da minha mãe também não levam!)...Não posso, a
minha mãe não tem computador!… Então o da Sra. sua tia … menina. ”Tia, qual é o
seu email?” Lá ficou um email registado. A confusão atingia níveis elevados de
adrenalina com a juventude e a paciência do Sr .que os atendia compreensivo,
mas quase a escassear “Ó jovem (já numa conversa de homem para homem) tens de te concentrar a preencher isto, queres mesmo
ir a Angola?...Então concentra-te! Tia,
o meu documento, Tia as minhas fotos, Mãe preciso deste papel, Mãe onde está o
documento… até que o Sr. com pena da Mãe e Tia lhe dá um conselho…a Sra. vai
mesmo para Luanda com estes 3 jovens…sozinha?!...melhor levar a PSP consigo.
Mas as tropelias terminaram e a papelada finalmente foi toda entregue.
Agora era só aguardar o visto…que
por momentos receavam não lhes ser atribuído pela confusão causada num local
que já por si é confuso…
Aqui começa o primeiro risco…Viagem
paga, mas sem visto na mão…adrenalina própria do dia-a-dia em Luanda…Welcome to
Luanda! Amanha registarei a chegada fisicamente desta "banda" ao País…o desembarque por estas
terras promete … a ver pelo início desta odisseia…aguardarei…se chegam todos!